22,23,24 e 25 de Janeiro – O Desafio da Montanha22/01/2010
INTRODUÇÃO A GUIZA DE ATUALIZAÇÃO
Como prometido estou atualizando a última postagem. Essa atualização merece uma introdução, uma vez que será feita em capítulos conforme os dias cronológicos e mais do que isso conforme as sensações e sentimentos que agora me invadem.
Estou numa cidade chamada Purmamarca a 60 km de Jujuy (Argentina). Como você puderam notar, não consegui chegar a Salta, hoje, como pretendia, mas esta é uma história para o final da postagem, sejam pacientes.
Já há algum tempo uma imagem e uma fala de um filme com Anthony Hopkins, no qual ele faz o papel de um antropólogo que foi adotado por uma família de gorilas o qual não me lembro o nome agora, me persegue. Referindo-se à família de gorilas e mais especialmente à relação entre a mãe e o filhote ele diz que o bebê estava o tempo todo protegido, atendido e que a dedicação da mãe ao filhote era enternecedora. O que isso tem a ver com a viagem e como me sinto? Bem, é exatamente assim que me sinto em relação à vida, o tempo todo protegido, atendido nas minhas necessidades, e uma sensação de presença plena e constante da vida nos meus caminhos. É impossível se sentir só, abandonado ou mesmo triste.
Neste momento estou tomado de profunda alegria e gratidão, algo absolutamente inexplicável em palavras. Uma emoção que emana do mais profundo do meu íntimo, quase me leva às lagrimas. Lágrimas de gratidão, de bem-estar e quase plenitude.
O tentar reportar a viagem por meio desse blog pode algumas vezes ser frustrante, tal a profusão de sentimentos, emoções e percepções que vivencio, quando acabo de escrever tenho a sensação de que não consegui passar nem 10% das minhas vivências.
El Lycancabur
Atendendo a pedidos vou me reportar à comunicação em Marte. Comunica-se aqui em todas a línguas conhecidas, Espanhol, Inglês, Alemão, Francês e, pasmem também em Português. Não se pode distinguir entre marcianos e abduzidos. Acredito mesmo que materialmente os marcianos não habitam mais comunicar conosco o fazem via intuição.
Valeu a pena ter vindo até aqui, tem sido o ponto alto de toda a viagem. Os lugares são incríveis e absolutamente impossíveis de se descrever. Me impressionou muito o silêncio do deserto, a sensação de distanciamento e paz é ainda mais forte do que tem sido até agora, só comparável aos momentos de plenos de estrada.
Estranho, senti solidão quando mais estava rodeado de gente, de fato me fez muita falta sentir- me amado.
Seguindo o programado saímos cedo para a Laguna Cejar, local onde os flamingos e outros passaros nidificam. Todo local é criteriosamente protegido e bem vigiado. De lá partimos para mais duas lagunas Miscanti e Miñiques. Todas essas lagunas são formadas por infiltração subterrânea. Os Andes são uma visão sempre presente onde quer que estejamos. Esses locais estão a aproximadamente 4.000 m de altura, embora tenha sentido muito pouco os efeitos da altitude.
O magnífico e impressionante vulcão Licantur é uma visão onipresente e poderosa, o guardião de Pachamama.
Retornamos à cidade quase na hora de pegar o segundo turno para a Laguna di Piedras e para os Ojos.
A laguna tem uma alto grau de salinidade, portanto não se afunda de jeito nenhum “flota-se”. Isso reforçou a impressão de estar em descritos na bíblia e connsequentemente o mar morto. De lá seguimos para o “Ojos” que são buracos perfeitamente redondos, no meio do deserto, cheios de água doce. Foi um mergulhos sensacional apesar da água gelada. Tirei todo o sal do corpo. Dizem que los Ojos são formados pela queda de meteoritos.
Seguimos para o Salar do Atacama para esperar o por do sol, quando foi servido um coquetel com direito ao Pisco Sauer. A visão do pai Licantur (vulcão que divide o Chile e a Bolívia, mais uma vez atraía como ímã. Agora entendo a obceção do alpinistas e a atração das montanhas. A alma fica marcada pela presença do Licantur.
Conheci muita gente durante o passeio como turista tradicional de excursão, um casal de franceses, jovens espanhóis que estavam estudando em Salvador, mas a maior empatia aconteceu com um casal de Taiwaneses e seu amigo descendente de japoneses. Todos os três são professores universitários em São Paulo. Gente muito simples, simpáticas e muito agradáveis, foi um depósito na minha poupança. São eles Chia (professora de línguas, chinês e português), Márcio seu marido e Gilberto um amigo, pessoas encantadoras.
A turma da manhã
23/01/2010
Desisti de ir à excursão da madrugada aos Geisers, estava muito cansado e, principalmente começou a me incomodar a sensação de fazer as coisas por obrigação. Além disso a partida estava marcada para as 4 da matina. Preferi dormir até mais tarde, comprar todos os recuerdos de viagem que deixei para comprar aqui e caminhar sem pressa pela cidade. Queria, também ver se conseguia atualizar o blog, estava sentindo falta de compartilhar meus sentimentos e impressões.
Praça central de San Pedro
Idem
Idem
Almocei com os paulistas. Chia é uma pessoa especialmente encantadora, com seu leve sotaque chinês e um espanhol horrível rsss. Muito interessante a diferença de culturas, sou naturalmente gentil com as mulheres e ela por formação cultural tem um profundo respeito pelos mais velhos, os quais têm privilégios, resultado tive que assumir os “privilégios” de ser mais velho.
Agora as 16 horas saio para mais uma excursão. Devemos atravessar um novo portal que nos levará ao Vale de La Luna.
Saída da caverna de sal
Montanha onde os abduzidos são deixados pasmos
Beijos a todos. Minha gratidão pelas mensagens. Não se esqueçam de mim.
Ps: farei questão de responder a todas os comentários numa postagem especial.
E antes que eu me esqueça: Carlão, vai cagar sua bichona!
Vamos continuar de onde parei na última postagem, estou escrevendo no Word para postar depois, uma vez que devido a “CHUVA”, pois é choveu no deserto, como vocês verão mais tarde, o sinal da internet está interrompido.
24/01/2010
NAS PROFUNDEZAS DO PLANETA
A decisão de não fazer a excursão da manhã se mostrou acertada, além de poder fazer minhas compras de recuerdos com calma, pude caminhar tranquilamente pela cidade. O que me aguardava a tarde foi de tirar o fôlego.
Quanto mais caminho em direção às profundezas dos planetas (Marte e Lua) mais acredito que esse é um pedaço especial do mundo. Valeu a pena ter vindo até aqui, uma vez que San Pedro do Atacama como portal do Lican-Antay (Terra Atacameña ou Terra do Povo) na língua marciana era o ponto alto do meu planejamento.
Enquanto passeava pelos extraordinários Vale de La Luna, Vale de La Muerte e via o por do sol de cima da montanha um pensamento de algo que li em algum lugar, não sei onde com as seguintes recomendações para os viventes que se aproximavam de um determinado portal me veio a mente:
Vivente, ao passar por este portal, deixe aqui todas as suas ilusões, crenças, medos, preocupações e preconceitos. Abra a alma e o espírito para todas as coisas que você vai ver e viver. Só assim você poderá ser modificado e purificado. Caso contrário, o portal não se abrirá, e você vivente não será capaz de ver, de ouvir e de sentir o coração da vida e passará pela terra sem tê-la sentido ou vivido.
As imagens falam mais do que eu poderia exprimir como vocês verão e todo o tempo o onipresente Lickancanbur (Montanha do povo) me observava e me atraia de forma impressionante.
25/01/2010
CONTRA-TEMPOS E O DESAFIO DA MONTANHA
Havia me preparado para deixar o Atacama, por volta do meio dia, para evitar a fila na duana. Daria tempo mais do que suficiente para cobrir os 500 km até salta.
De San Pedro até o próximo posto eram 272 km, portanto comprei um galão de 5 litros de água para colocar gasolina extra antes de sair. Aí começou toda uma verdadeira comédia, se não fosse um teste à minha paciência.
Um mau encarado e mau humorado frentista do único posto daqui não aceitou o galão de água e disse que era preciso comprar um “bidom” galão apropriado, mais resistente, depois de rodar pela cidade atrás do tal “bidom”, finalmente uma alma generosa de uma ferreteria (loja de materiais de construção) me cedeu um no qual ela colocava água. De volta ao posto abasteci o galão com 4,5 de gasolina extra e segui para a duana para os trâmites de saída do país, o que aconteceu sem maiores problemas.
O caminho para a Argentina passa necessariamente pelo “Passo Jama” que vai margeando o Lickancabur e a estrada se eleva até os 4.000 m de altitude. Senti muito frio e parei para colocar roupas mais apropriadas, quando me dei conta que tal bidom com gasolina havia sumido, deve ter caído pela estrada. Nessa altura já havia rodado uns 50 km e não havia como voltar. O jeito foi continuar em frente e contar com a autonomia da poderosa. Por sorte logo depois da duana Argentina a aproximadamente 160 km de San Pedro, inauguraram um novo posto da YTF, muito bom, com uma boa lanchonete.
AVISO AOS NAVEGANTES:
OS VIVENTES QUE NO FUTURO PRETENDAM SE AVENTURAR DE MOTO POR ESTAS BANDAS DEVEM SABER QUE NÃO HÁ MAIS NECESSIDADE DE GASOLINA EXTRA! O POSTO DA YTF LOGO DEPOIS DA DUANA ARGENTINA É EXCELENTE!
Com toda a confusão de compra de gasolina extra me atrasei muito e cheguei a Susques, na Argentina lá pelas 18 horas. Faltavam 200 km até Jujuy e resolvi continuar. Pensei com os meus botões com essas estradas daqui faço o trajeto fácil até as 20:00 horas, ledo engano, aí começa o desafio da montanha.
O DESAFIO DAS MONTANHAS
A estrada que leva a Jujuy passa por duas montanhas, nas quais a pista se eleva a mais de 4.500 m de altura. Na primeira tudo bem, parecia mais uma montanha russa, mas estava de dia e seco. Já na segunda que se chama, adivinhem, “Lickan” o bicho pegou. Antes mesmo de chegar lá uma chuva distante que havia visto ao longe me pegou, acentuando o frio que já sentia. Parei para colocar o terceiro casado e me informaram que havia a tal Lickan pela frente, quase 50 km de estrada pela montanha, chegando aos 4.200 m de altura.
Descobri que além de portal de entrada para o mundo mágico de Lickan-Antay há também um teste de saída, como se a montanha quisesse testar o nosso aprendizado. Enfrentei o desafio da montanha de noite, com chuva e com frio.
O estranho é que em nenhum momento senti medo, raiva ou coisa parecida, minha atenção se concentrou totalmente nas inumeráveis curvas de subida e de descida. Quanto mais subia, mais o frio aumentava, mas estava confortável. Foi necessária extrema cautela, porque em alguns trechos havia terra na pista que com a água da chuva se tornaram mais traiçoeiros ainda. Em nenhum momento me impacientei e nem deixei de perseverar, na absoluta certeza que tudo correria bem, como de fato correu. Gastei quase duas horas para passar pelo teste do Lickan, mas valeu a pena, logo abaixo havia uma cidade, na qual me encontro (PURMAMARCA) e onde encontrei um hotel muito confortável, muito bom para falar a verdade. Além disso, o sentimento de vitória, não sobre a montanha especificamente, uma vez que não a vencemos nunca, conquistamos sua permissão de passagem, mas a vitória sobre mim mesmo, a descoberta da capacidade de passar por momentos delicados, podendo conservar a confiança e a coragem, sempre protegido e cuidado pela vida.
Ainda agora quando escrevo esse relato não posso deixar de me emocionar e de sentir essa enorme gratidão que não cabe no meu peito. GRACIAS A LA VIDA QUE ME HÁ DADO TANTO.
Vou ficando por aqui Viventes, uma vez que esta postagem, quando acrescida das fotos deverá ficar com umas dez páginas ( E olhe que não são nem 10% do que vivi e senti). Um beijo a todos, minha gratidão. Não se esqueçam de mim.
Escreví o complemento ontem e estou postando de Salta hoje.
Ps: Demorou muito para baixar as fotos. Ainda há mais, mas fica parra uma próxima postagem.
Ps1: Pesei hoje e emagreci 5 kg na viagem.